quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Elementar, meu caro Watson

Sherlock Holmes e Dr. Watson tiraram umas férias para fazer campismo no campo. Na última noite, decidiram ir-se deitar assim que terminaram a sua modesta refeição, pelo que iriam partir na manhã seguinte.
Algum tempo depois, Watson acordou. Reparou que o seu amigo estava claramente acordado, olhando fixamente as estrelas. Era óbvio que ele já estava a fazê-lo há algum tempo.
"Watson," disse Holmes, "estive a estudar as estrelas nos últimos dez minutos e cheguei a uma brilhante conclusão. Antes que lhe diga qual é, peço-lhe que olhe para as estrelas e me diga o que vê."
Watson pensou durante uns minutos.
"Bem, as estrelas estão a brilhar fortemente, o que significa que o dia de amanhã será provavelmente maravilhoso".
"Não, não é isso", disse Holmes. "Tente de novo."
"Deixe ver... noto que a Lua está situada a um ângulo de 65 graus, e que se irá pôr daqui a aproximadamente uma hora. Deduzo então que sejam provavelmente 2h25 da manhã".
"Não, também não é isso", disse Holmes. "Tente de novo."
Hum... daqui a cerca de cinco horas, teremos estado de férias durante exactamente uma semana".
"Watson, seu idiota. Alguém nos roubou a tenda!"

Pequenos Prazeres

Aquela sensação...

Final de tarde, o corpo esgotado física e psicológicamente, quer vindo de longe ou de perto, um longo dia de estudo, trabalho, ou apenas de desporto.. relaxante, maravilhosa, mas possívelmente descritível.
Respirar o ar nocturno à medida que ouves apenas os ruídos de um carro ou outro a passar enquanto sobes a longa rua até à tua casa. Talvez a melhor recompensa do dia, senão contarmos o facto de chegarmos, lermos aquela mensagem esperada no telemóvel, e mergulharmos depois num duche morno, com um jantar à porta.

Carpe Diem

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Trace - Capítulo Dois

O vento soprava por entre as portadas das janelas. Do outro lado da rua ouviam-se vozes vindas de longe, do Cais do Sodré. Era dia de feira, e geralmente sinal que cerca de metade da camada mais idosa da população lisboeta se aglomerava no Mercado da Ribeira, quer para ver, comprar ou simplesmente meter conversa com os transeuntes. Num dos corredores daquele modesto edifício, circulava um personagem alto, forte, mas de cara amistosa. Aparentemente alheio ao que o rodeava, por pouco não chocara com um grupo de compradores, e depois com objectos de venda dispostos ao longo do caminho. Lia um jornal, o “Correio da Manhã”, os seus olhos centrados nas letras pequenas da secção de anúncios, mais concretamente nas ofertas de trabalho.
Suspirara, e após ouvir o som de mais um comboio que partira na estação, do outro lado da rua, decidira aventurar-se e subir a longa rua que iria dar junto à figura ilustre que era Fernando Pessoa.
Á medida que cada passo dava naquela subida íngreme pensava na sua triste vida, e no modo como resolver os problemas que o atormentavam diariamente. Estêvão era casado e pai de um filho, mas como muita boa gente vivia apertado pelas dívidas. Devido à sua constituição física, desde jovem era adepto de desporto, mais concretamente dos desportos de combate. Um prodígio no judo e um exemplo para as camadas jovens desde novo, não foi de admirar a sua rápida progressão para cinto negro, e consecutivamente a exercer o cargo de professor de judo. No âmbito de ajudar a sustentar tanto a sua mulher, que era doméstica, mas que exercia a sua profissão também com grande orgulho, como o seu filho de 10 anos, uma criança fraca, mas que seguia os passos do pai, a vida de Estêvão era passada nos tapetes, vivendo para respirar o suor dos seus adversários à medida que os derrubava um atrás do outro em tempos passados. A carreira dele terminou quando o seu espaço fora à falência, sendo este o proprietário então. Sem profissão, e com o agravamento das dívidas, Estêvão teve de se agarrar ao álcool para suportar as mágoas, um erro infeliz, mas que não durou muito. Graças à sua vontade de ferro, ei-lo de volta recuperado, procurando trabalho, sempre pelo bem da sua família. Era um homem honrado, simples, e que odiava injustiças.
“Isto está uma miséria…” – dizia ele na medida em que perscrutava a última página da secção. Retirou os olhos do jornal e reparara que se encontrava numa rua vazia. Estava confuso. Preparava-se para regressar atrás e rever os seus passos quando uma voz vinda de umas janelas de uma janela em cima o sobressaltou.
“Quem é você?” - o grito ecoou pelas paredes dos prédios em redor.