quinta-feira, 27 de março de 2008

Trace - Capítulo 3

De punhos fechados, o que outrora era um vulto nas sombras, avançou dois passos sobre Trace e ele finalmente reconheceu-o á luz dos raios da luz vindos da janela atrás de si.
“Bartolomeu Gonçalves? Que quer de mim?” – a história de repente torna-se clara na mente deste detective, não era a primeira vez que estava de frente a este homem, nem por sombras. A sua ligação a esta pessoa já data uns anos, a uma altura em que Trace era mais jovem, inexperiente… e talvez, apaixonado. Sim, por muito frio que se possa ser, existe sempre um motivo para tal maneira de ser, e eis que durante crescimento da sua pessoa fora obrigado a esquecer outra. Aquela pela qual ele pedira a mão ao homem à sua frente, Ana Gonçalves “uma beleza deslumbrantemente especial”, muitas vezes pensou ele, entre anéis de cigarro, na solidão do seu escritório.
“Nem sei como… como lhe deixo dirigir-me a palavra” – falava lentamente, entre dentes - “… meu sacana…”

Era uma noite de chuva, talvez de temporal quiçá… Um táxi para em frente do portal de uma mansão, de lá sai um jovem de gabardine preta e chapéu a condizer. Espera uns dez minutos, o que mais parece uma eternidade. Por fim, uma jovem, morena, de pele clara e olhos azuis como cristais, abre o portão e abriga-o debaixo do seu guarda-chuva. Estava ofegante, parecia que tinha vindo a correr de longe.
Afastaram-se um pouco daquele local, e, num ambiente mais restrito, mas próximo, falaram de tudo um pouco. Ele contava-lhe das suas peripécias, dos seus azares, das suas aventuras, histórias que ela ouvia atentamente, cada palavra, cada sílaba, fascinada com o que ele dizia como se lhe contasse o maior segredo do mundo.
“Aproxima-te…” – disse ele, sussurrando-lhe no terno ouvido… beijaram-se.
O tempo passou, a chuva trouxe trovoada. Já não era seguro estar no exterior, trouxe-a a casa, mas não contava com a presença do guarda do portão que esteve nas sombras todo aquele tempo à espera que estes voltassem. Fora apanhado, e levado em frente ao pai.
Bartolomeu, um homem orgulhoso, de forte carácter, que no fundo só queria o bem da filha. Uma educação esmerada cuidadosamente passada para a filha, também por vontade da sua falecida esposa.
Praguejou-lhe, e voltou a praguejar, zumbidos de uma melga nos ouvidos do jovem. Quando este se calou por fim, o jovem levantou-se firmemente e pediu a mão dela.
Apartir daí, muitos anos passaram até ouvir falar sobre ela sequer, até este homem, aquele que o afastou forçosamente do seu passado feliz, lhe aparecer à frente.


“O que deseja de mim?” – disse Trace, agora mais calmo.
O homem, de punho firme, sentou-se numa cadeira próxima da sua secretária, olhou-o nos olhos, e disse irado “Que ajude a minha filha.”