domingo, 21 de setembro de 2008

Nas linhas da minha mão

Nas linhas da minha mão escrevo tudo aquilo que em papel não consegui. Escrevo como é belo o imenso verde das florestas, com os seus caminhos de terra escura, as mais altas montanhas, o horizonte do campo.

Por detrás dele estão as praias de areia branca, e mais adiante, o mar, aquele manto azul de que me recordo tão bem.

Avanço mais um pouco e eis que após alcançar nova margem deparo-me com as sombras dos prédios que tão bem conheço. Uma metrópole de cultura sobre um chão acinzentado. Chego às colinas do campo e por cima desse conjunto de casas e casinhas encontro a Lua que me brinda com uma noite calma.

Já no meu quarto, com a luz acesa, escrevo isto ao mesmo tempo que penso...

... como Amo Portugal.

sábado, 13 de setembro de 2008

Trace - Capítulo 4

“Mas que tem ela?” – perguntou Trace, num tom de voz hesitante, como que antevendo o pior.
“Eu sou um homem de negócios meu bom homem…” - Notou-se um certo tom de arrogância na sua voz - “e sei que no passado ambos tivemos as nossas divergências, mas também as nossas razões…”
Aproximou-se de Trace mas já não o olhava nos olhos, avistava o prédio em frente cuidadosamente.
“Portanto vejo-me obrigado a recorrer a si, sei que se tem saído bem naquilo que faz.” - Disse ele.
“Há uns anos meu caro, há uns anos. – Suspirou Trace - Mas que pretende?”
“Como já lhe disse, preciso da sua ajuda. Pondo certos acontecimentos do passado de lado, gostaria de o contratar para manter a minha filha de olho.”
“E porquê?” – disse Trace em tom trémulo, mas tentou guardá-lo para si – “Pensei que eu Seria a última pessoa a quem pedisse tal coisa.”
“Dadas as circunstâncias… penso que esta seja a melhor opção. Um homem também por vezes erra… certos acontecimentos levaram-me a meditar.”
“Por outras palavras?” – Trace tentou manter-se neutro perante tal argumento. O homem claramente mostrava-se abalado com algo, notava-se pelo seu discurso pouco fluente. E que teria acontecido a Ana? A resposta surgiu instantaneamente.
“Penso que a minha filha corre perigo de vida.” – Disse.
“O que o leva a pensar isso?” – Disse Trace, o tom de nervosismo agora mais presente na sua voz.
“Um dos meus seguranças diz que a viu com um homem, e parece que mais que uma vez. É provável que estejam… envolvidos. Quero que investigue esse homem, o que faz, onde vive, com quem se dá.” – Baixou a sua voz – “É apenas uma suspeita, mas creio que ele poderá estar a agir sobre a ordem de terceiros. Gostaria que confirmasse isso.”
Trace inspirou fundo. Era demasiada informação a entrar-lhe na cabeça muito rapidamente. – “Mas porquê eu?”
“Pense… você conhece a minha filha. Bem, conheceu, antes de… enfim…”
“Sim…”
“Avancemos… conhece os seus hábitos, maneira de ser. Sei que a via muitas vezes. Também lhe posso dizer que durante muito tempo ela não pôde recuperar da sua perda. Acabei por me tornar num mau pai. No fundo eu compreendia-a, mas agia para o seu bem. Também lhe posso dizer que você não foi o primeiro, mas foi também aquele que mais lhe afectou.”
“Sim…” – Trace manteve-se imóvel. A sua experiência do ofício ensinou-o a afastar os sentimentos no trabalho. Doía menos, muito menos, acabando por ser vital.
“Proponho-lhe a segui-la numa noite e a observá-los. Sei que ela se encontra com ele pelo menos uma vez por semana. Tente saber tudo sobre ele. O que achar relevante. Transmita-me depois. Pagar-lhe-ei bem. Aceita?”
Seguiram-se alguns minutos de silêncio onde só se ouvia o vento do exterior.
“Tudo bem. Farei o que puder. Sei que é um homem de palavra.”
“Pode confiar em mim.”
Apertaram as mãos. Tirou um cartão da mesa de Trace.
“Ligar-lhe-ão ainda hoje.”
“Estarei à espera.”
O robusto homem virou-lhe as costas e saiu fechando a porta com força. Ouvia-se o som de passos a descerem as escadas.
O que terá levado a tão rápida aceitação do trabalho por Trace? A ausência de clientes já há muito notada, ou a ausência de algo maior que isso?