segunda-feira, 18 de junho de 2012

Menos por mais


Pude assistir há pouco a uma reportagem de um canal privado onde se abordou o facto de cada vez mais portugueses viverem com o ordenado mínimo. Durante a peça foi entrevistado um jovem, cujo nome não me recordo, que está nessa situação. Irei chamar-lhe de “João”.
O “João” tem 26 anos e licenciou-se em Marketing. Actualmente trabalha num call center e recebe o ordenado mínimo. No entanto, ele diz que é possível viver e ser independente mesmo estando nessa situação. O “João” tem sonhos, como muitos outros, e acredita que os poderá realizar… mas não neste momento. Apesar de tudo o “João” não deixa de sonhar e de acreditar.
Afastemo-nos um pouco do futuro por uns instantes e centremo-nos no presente do “João”. Ele utiliza os transportes públicos, não vai ao cinema, evita viajar e são raros os dias em que janta fora. Aquilo que à primeira vista poderá parecer uma infelicidade para alguns acaba por ser a expressão carrancuda de outros de idade mais avançada.
Verdade seja dita, hoje em dia temos a sorte de viver numa época onde estamos cada vez mais próximos uns dos outros à distância de uma mensagem de texto, de um clique ou de uma viagem de baixo custo. Falo de um período onde a esperança média de vida está acima dos 60 anos e onde podemos adquirir refeições feitas em menos de cinco minutos.
Para além disso vivemos num mundo de licenciados, mestres e doutores. Falo de uma sociedade onde as pessoas têm a oportunidade de irem para a universidade para prosseguirem nos seus estudos apesar da subida do preço das propinas. Temos telemóveis, computadores portáteis e televisões com mais canais do que aqueles que nos interessam.
É por todas essas razões e mais algumas que sou da opinião que habituámo-nos a ter demasiado e a dar pouco valor ao que temos. É precisamente esse “demasia” já enraizada no crescimento de muitos que conduz a estados de depressão por não se poder cometer os excessos. Falo aqui das viagens, dos cinemas, dos jantares ou saídas em discotecas da moda. São bens materiais mas não essenciais.
Perguntará então o leitor: mas então quais serão esses bens essenciais? São os bens imateriais. Falo de sentimentos como o amor, o carinho, o respeito, o afecto. Dizem que uma época de crise é sinónimo de oportunidade, de empreendedorismo… não quero ir por aí. Creio que, acima de tudo, é um período onde podemos aprender a olhar em nosso redor e apercebermo-nos de certos valores e do que realmente interessa.
Creio que esta crise será vencida com paciência e muita entreajuda entre todos. Chegou a altura de deixarmos de olhar para o nosso umbigo e pensar em como poderemos ser úteis para o próximo. Cada um de nós é único e especial à sua maneira mas muitos não se apercebem disso. Tal como no amor onde a nossa cara-metade poderá estar a um palmo de distância e não nos apercebemos, também nós temos o hábito de ignorar as nossas capacidades e a nossa rede de contactos que se torna cada vez mais acessível.
Para concluir, acho que a crise será superada mais facilmente assim que nos apercebermos do valor real do que temos à nossa volta e de repensarmos as nossas atitudes. É certo que o “João” tem um curso superior e sonha alto, ninguém o impede de o fazer. Apenas aprendeu a adaptar-se às circunstâncias e quiçá a lembra-se das pequenas coisas, das que realmente contam.  

segunda-feira, 11 de junho de 2012

O delírio pelo esférico e a febre do nacionalismo


Entrámos em Junho e com ele chegou a febre do desporto a céu aberto. Este é o mês do Europeu de futebol, do torneio de ténis Roland Garros em França e de outros eventos recorrentes como o MotoGP para os aficionados pelos motores. Vou-me centrar no fenómeno do futebol e da imagem da nossa selecção nacional.
Ser jogador de futebol de um clube reconhecido internacionalmente é sinónimo de carros de luxo, de hotéis caros, de brincos e de cabelos eriçados. Claro que, como tudo na vida, para se chegar à glória é preciso verter muito suor. Ser jogador de uma selecção nacional é suportar um peso dez vezes superior, é levantar toda uma nação. Quando as selecções jogam o duelo acaba por ser muito mais do que apenas uma troca de jogadas e fintas, é um embate de duas bandeiras e de sistemas económicos que visto de fora nos telejornais pode equivaler à história de David contra Golias.
Foi precisamente essa história que se mostrou no passado sábado, na Ucrânia, quando Portugal defrontou a Alemanha no primeiro jogo do seu agrupamento. Não é que a selecção portuguesa seja tão desproporcional frente aos seus vizinhos germânicos, mas a verdade é que grande parte da população portuguesa ergueu os punhos na esperança de superar o país de Angela Merkel através de uma boa goleada no marcador… o que infelizmente não aconteceu.
O problema aqui não é a qualidade dos jogadores, eles fazem o seu melhor. Sou da opinião que a ferida vem mesmo do cerco mediático exagerado que se colocou antes e durante a participação da selecção no Euro. Há quem acredite que se investe demasiado na cobertura do evento, dinheiro esse que sai do bolso da população e poderia ser utilizado para fins mais úteis. No entanto, não é por aí que quero chegar. O que critico é o exagero desmesurado que se faz pela parte de certos canais para relatar ao pormenor a vida e o treino dos jogadores durante o evento.
É certo que vivemos num mundo globalizado onde a informação vem ter connosco num ápice mas até que ponto é que passamos da informação para o trivial? É uma barreira ténue e no caso da cobertura à equipa da selecção foi rompida nos primeiros minutos de esses programas. É simpático para o fã poder sentir-se próximo dos seus ídolos, mas será realmente interessante saber o que é que o Coentrão almoçou ou que a que horas é que o Ronaldo saiu do duche?
O espectáculo mediático continua nos anúncios. Grandes marcas procuram usar a selecção também como uma via para promover-se indirectamente. Assistimos então a promoções para piqueniques, corridas pela selecção, pacotes especiais nos bancos e afins. Não é que eu critique o facto de se fazerem em si, até porque alegra-me ver uma nação unida por uma causa, mas ficaria mais feliz se fosse por algo mais nobre como uma recolha de alimentos ou da Cruz Vermelha. Regressemos então ao peso nos ombros dos nossos jogadores…
A selecção de Paulo Bento tem uma responsabilidade maior do que aparenta, tem a missão de fazer lembrar à Europa e ao mundo que o país é melhor do que a avaliação que as agências de rating lhe deram. O problema é que com um cerco mediático tão exagerado a esperança ultrapassa os níveis do racional para o cegamente fantasioso. Sou da opinião que talvez uma menor cobertura não tão directa aos jogadores poderá ajudar a acalmar os nervos e a melhorar o seu desempenho. Eles já são o centro das atenções quer queiram, quer não e não é necessário apontar-lhes uma câmara vinte e quatro horas por dia a lembrar a teoria de Orwell que irá facilitar as coisas.
Para concluir, não posso deixar de referir a minha opinião em relação ao desempenho da selecção nos últimos jogos. Acho que Portugal não jogou tão bem quanto eu esperava mas como português espero sinceramente que ainda nos traga uma bela surpresa. Encaro o Euro como uma competição entre grandes selecções onde os melhores dos melhores se defrontam. É um evento único e de forte atenção dos fanáticos aos curiosos. É por isso que acredito que algum afastamento dos fanatismos provocados pelos media poderá ajudar a aguçar a visão crítica do que acontece nos diferentes relvados. Estarei atento à Espanha, à Alemanha, à Inglaterra, à Itália… enfim, grandes colossos que irão surpreender. E mesmo que Portugal perca aconselho a não perderem de olho os nossos colegas europeus… Resta só dizer: que ganhe o melhor!