domingo, 2 de setembro de 2012

Análise: Concerto de Jack White


Jack White, o fundador da banda de culto White Stripes, apresentou-se em nome próprio no dia 31 de Agosto no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, para uma noite de puro rock. A abertura coube aos The Poppers, uma banda portuguesa em ascensão.
O Coliseu esteve cheio numa noite quente que prometia. Após as portas abrirem ouviram-se logo os primeiros sons mexidos dos The Poppers. A música deles dificilmente deixaria alguém indiferente. Numa mistura entre o género country americano e o rock mais alternativo, as faixas convidavam aos abanões ou ao moche. Contudo, a multidão não demonstrou mais do que uns quantos esbracejos e cabeças a anuir. A banda passou no exame mas o que que todos queriam ainda estava nos bastidores.
Surgiu o intervalo e as massas deslocaram-se para melhor ver, tocar e sonhar com a banda de Jack. Não havia uma idade fixa, avistando-se pessoas dos 15 aos 50 por entre as bancadas. Pessoas que vinham, quiçá, por curiosidade ou culpa inconsciente de ter perdido a última vinda de Jack à capital. Foi só há cinco anos mas para muitos foi uma eternidade. O fenómeno White Stripes ainda perdura nos ouvidos e corações de todos.
Eis que sobe alguém ao palco. É um membro da banda que pede à multidão para assistir ao concerto com os telemóveis e câmaras desligados. E tem toda a razão. Para mim, os concertos mais memoráveis valem bem a pena ser vistos com os próprios olhos. O público esperou muito pouco, não tardou até as luzes se apagarem e Jack e a sua banda aparecerem sob um foco de luz azul. Com um ar aparentemente neutro, surgiram os primeiros acordes de Dead Leaves and the Dirty Ground, uma canção dos White Stripes.
De facto, todo o concerto foi um brinde de nostalgia aos mais aficionados. Foram tocadas 22 músicas sendo que metade delas pertenceram a projectos passados do guitarrista. Surgiram temas clássicos como Top Yourself, dos The Raconteurs, I Cut Like  Buffalo dos The Dead Weather e The Hardest Button to Button dos White Stripes misturados com mais recentes, como a balada Love Interruption ou o mais animado Sixteen Saltines.
A neutralidade inicial de Jack desvaneceu-se uns minutos depois. No palco viu-se o guitarrista bem disposto interagindo com os outros membros e alternando entre a guitarra e o piano, mostrando a sua versatilidade de artista. Sublinho também a energia de Daru Jones, o baterista que, por vezes, parecia que estava isolado no seu mundo, surpreendendo com o seu talento e intensidade em várias ocasiões durante o espectáculo.
O concerto durou duas horas e terminou com um encore, começando com Steady As She Goes e fechando com a clássica Seven Nation Army. Esta última música era a mais esperada como o demonstraram os fortes bateres de pés nas bancadas de toda a audiência. Ninguém ficou indiferente, todos entoaram o hino de Jack até ao último fôlego. Se Jack White regressará em breve ninguém o sabe. De qualquer modo ele provou, mais uma vez, que é mais do que um rótulo, é um fenómeno por si só.

sábado, 1 de setembro de 2012

Crítica: Uma Viagem à Índia



Muito aclamado pela crítica como um livro intemporal e revelação dos últimos tempos, a Viagem à Índia de Gonçalo M. Tavares lembra-nos "Os Lusíadas" de Luís Camões pela sua construção em estrofe e aparente alusão à ode heróica. Basta ler as primeiras páginas para nos apercebemos de que o que temos em mãos não é bem a mesma coisa.
"Uma Viagem à Índia" é um trabalho de reflexão do autor acerca de tudo o que o rodeia e experienciou ao longo da vida. A viagem de Bloom é o tema principal do livro que acaba por passar para segundo plano em várias ocasiões. Bloom parte de Portugal com o objectivo de encontrar a sabedoria na Índia. Pelo caminho faz escalas curtas em Londres, Paris e Praga. Sublinho aqui a excelente capacidade do autor em pintar-nos uma imagem brilhante das pessoas e dos seus hábitos em cada país.
Após algumas peripécias, Bloom chega à Índia onde irá ter uma descoberta pessoal. Sem querer entrar em revelações, devo confessar que me surpreendeu a construção caótica da escrita e raciocínio do autor no último capítulo do livro.
Recomendo-o vivamente pois acaba por ser especial quer pela sua construção a lembrar "Os Lusíadas", quer pela própria epopeia de Bloom. Gonçalo M. Tavares usa esta obra para expôr algumas das suas visões acerca do mundo que o rodeia, se bem que por vezes de forma pouco clara.

Autor: Gonçalo M. Tavares
Ano: 2010
Páginas: 484
Editora: Editorial Caminho