domingo, 11 de março de 2012

Crítica: Vergonha


Vergonha é uma obra mais complexa do que parece. O drama, do realizador Steve McQueen, conta a história de Brandon Sullivan (Michael Fassbender), um indivíduo viciado em sexo cuja vida leva uma reviravolta com a chegada da sua irmã (Carey Mulligan).
Brandon é um homem de meia idade, bem sucedido e pouco emotivo. Na primeira parte do filme é-nos apresentado o seu dia-a-dia, que consiste em pagar a prostitutas para ter relações no seu apartamento. Não tarda muito até o espectador começar a aperceber-se de quão grave é o estado de Brandon: ele mal consegue manter uma conversa casual, passa as noites isolado a ver vídeos eróticos e rejeita por completo o amor… porque não o conhece realmente.
A personagem é como uma marioneta, um corpo movido para satisfazer as suas necessidades primárias sem qualquer interesse por qualquer tema que não envolva o seu prazer físico. Não é que Brandon seja tímido, simplesmente vive numa bolha irreal, num mundo pequeno onde é ele que dita as regras e faz o que lhe apetece, quando quer. A vida de Brandon é alterada com a chegada de Sissy, a sua irmã.
Sissy “aterra” literalmente sem avisar no seu pequeno mundo. A irmã mais nova não faz a menor ideia dos vícios do irmão e sempre estranhou o seu isolamento forçado. Não é que ele a odeie, é simplesmente um efeito do estado grave da sua doença. Sissy sonha com uma carreira musical e também é um pouco desajustada socialmente. No entanto, ela adora o irmão procurando obter o seu afecto por muito que ele tente afastar-se de tudo e de todos.
Um dos pontos fortes do filme é certamente o desempenho dos actores e o modo como interagem entre si. É curioso assistirmos a uma cena de jantar onde se encontram Brandon e outros convidados para nos percebermos do contraste que existe entre eles. A personagem limita-se a sorrir e a anuir mas no fundo o que vemos é um corpo oco, sem interesses, um predador de instintos primários que ainda não encontrou a cura.
Vergonha é um filme que poderá conter alguma polémica e não agradar a alguns grupos mas não deixa de ser altamente recomendável. Steve McQueen explora o mundo privado de uma pessoa perfeitamente normal na sua vida profissional mas completamente vaga a nível emocional. Brandon é um corpo num filme onde corpos se revelam e existe um forte jogo de emoções entre o espectador e as personagens.

Título original: Shame
Realizador: Steve McQueen
Elenco: Michael Fassbender e Carey Mulligan
Ano de estreia: 2011
Género: Drama

segunda-feira, 5 de março de 2012

O dilema do fumo e a vontade de crescer


Cada vez mais tenho reparado em crianças de cigarro em riste. Quando me refiro a crianças não se trata de um nome que reforça a minha diferença de idade: são mesmo crianças.
Nos meus passeios já é quase certo que, mal passe por uma escola secundária, encontro logo adolescentes a experimentar «o fruto proibido». Até aí consigo tolerar, mas a situação azeda quando vejo miúdos com pouco mais de dez anos de cigarro na mão. Serão as influências de terceiros? Serão vítimas de uma lavagem cerebral involuntária dos média?
Parece que as gerações seguintes crescem a uma velocidade estonteante. Mal saem do útero agarram-se ao biberão, que o descartam pelo café e o largam pelo cigarro. Têm tanta correria para crescer que nem desfrutam da infância. São «senhores» de palmo e meio sem qualquer tipo de responsabilidade.
No meio disto tudo qual será o papel dos pais? Infelizmente (ou felizmente) o dinheiro não cresce nas árvores, então tento perceber como nascem esses pequenos cilindros nas mãos de crianças de apenas doze anos.
Ver este tipo de situações só reforça a minha opinião que o problema do país está na Educação. Estou a falar da transmissão do saber pelos pais e não do ensino escolar. É um tema complexo porque é difícil para os pais conseguir evitar que os seus rebentos sejam corrompidos pelo exterior mas o seu papel é fulcral!
A esperança média de vida tem vindo a crescer nos últimos anos devido aos avanços na saúde e a mudanças de hábitos alimentares. No entanto, temo que possamos estar a criar uma geração movida a nicotina. Não vejo mal nenhum que uma pessoa adulta fume, pois já é responsável pelo seu destino, dói-me é ver crianças de cigarro em riste, seduzidas por sensações que procuram e que poderão levá-las à sua perdição… na mais completa ignorância.  

sexta-feira, 2 de março de 2012

Reportagem: "O Pó"


Está agora em cena “O Pó”, a mais recente peça da autoria de José Meireles encenada por Abílio Apolinário. A obra ganha vida pela Projéctor, a Companhia de Teatro do Barreiro, e vai estar em cena na Sociedade Instrução e Recreio Barreirense (SIRB) durante os dois primeiros fins de semana do mês de março.
A peça tem como base o tema da droga e de como a sua dependência pode trazer consequências nefastas para o indivíduo e os seus mais próximos. A história centra-se em "Jony" (Ricardo Gião), "Alex" (Tiago Soares) e "Jim" (André Antunes) que formaram uma banda mas que se deixaram atingir pela influência do pó. "Alex" e "Jim" já se encontram em fase de recuperação sendo que grande parte da descarga emocional recai sobre o terceiro elemento.
"Jony" é uma personagem mais complexa do que parece. Durante a peça o público assiste a alguns dos seus ensaios para a gravação do primeiro disco mas é nos intervalos que se apercebe da fragilidade da relação entre os três amigos. O que aparenta ser uma “unidade” está claramente dividida devido aos comportamentos irregulares de "Jony", cuja saúde física e mental se vai deteriorando ao longo da peça. "Alex" e "Jim" lutam arduamente para procurar restabelecer a união mas mesmo assim torna-se complicado pois mal conseguem manter a sua amizade.
Assistir a “O Pó” é como entrar numa locomotiva fumegante que nos conduz freneticamente até ao final. Durante 45 minutos assiste-se a uma sessão intensa de música e de diálogos pesados tendo como pano de fundo o rock n’ roll. O uso de videoclips durante os "ensaios" da banda permite uma maior aproximação com o público, misturando-se a ficção com a realidade.
Para Abílio Apolinário, “a peça procura servir como uma chamada de atenção para os mais novos acerca dos perigos da droga”. A introdução de personagens jovens poderá ajudar a facilitar esse elo de ligação. “Os jovens de hoje em dia estão dispostos a tudo e a utilização de linguagem pesada é essencial”, refere o encenador.
Ricardo Gião confessa que não consegue viver sem o teatro e procura explorar géneros dentro dos quais ainda tem pouca experiência. Esta é a sua quarta peça com a Projéctor e reforça que é mais fácil desempenhar papéis com amigos porque “já não existe a necessidade de adaptação e há um espírito de entreajuda, pois conhecemos as fraquezas uns dos outros”, afirma o ator.
Depois de “O Pó”, a Projéctor já está a preparar “Loucos de Amor” de Sam Shepard, a 27 de março e “Baal” de Berltont Brecht a 27 de outubro.


Local e horário das sessões:
Dias 3, 10, 16 e 17 pelas 21h30
Dias 4 e 11 pelas 17 horas
Sociedade Instrução e Recreio Barreirense (SIRB), “Os Penicheiros”
R. Almirante Reis, n.º 66, Barreiro
Telefone: 212 073 409   Email: penicheiros@portugalmail.pt
Website da Projéctor: http://projector-teatro.pt.vu