domingo, 25 de novembro de 2012

Fórum Fantástico 2012: Mergulhar na ficção




Neste fim-de-semana, de 23 a 25 de Novembro, a Biblioteca Orlando Ribeiro em Telheiras abriu as portas à sétima edição do Fórum Fantástico. Este é um evento em expansão que procura dinamizar o culto da literatura de ficção e o imaginário dos leitores.
O Fórum de este ano teve uma programação diversificada com workshops de Escrita Criativa Fantástica e visualizações de curtas-metragens para além das palestras e debates habituais com escritores do género e aspirantes a sê-lo. Paralelamente ao evento, estava a decorrer exposição temática e uma loja de livros e jogos temáticos. Só pude assistir às sessões da tarde de dia 24, que irei partilhar convosco.
A tarde de sábado foi dedicada ao lançamento de não uma mas três revistas do género: a Trëma, a Lusitânia e o Almanaque Steampunk. No caso das duas primeiras, ambas procuram divulgar o género fantástico em Portugal exclusivamente através da publicação de contos. Funcionam como um veículo onde qualquer um pode fazer parte da comunidade enviando uma história que, depois de um processo de selecção, poderá ser publicada na revista.
Na apresentação da Trëma, de Rogério Ribeiro, apercebi-me imediatamente da heterogeneidade dos autores; pessoas, de idades, géneros e percursos diferentes; que habitam nas páginas da edição. Entre os autores estavam presentes uma rapariga jovem, uma mãe que se aventurava nessas andanças e ainda um homem nos seus cinquenta anos com ligações à Engenharia Electrotécnica. Este último contou brevemente a sua história sobre um homem que surfava pelo espaço, com fundamentos científicos por detrás da narrativa. Em comum a todos eles estava a paixão pelo fantástico e defenderam-no orgulhosamente com algum humor à mistura.
Em seguida surgiu a Lusitânia pelo comando de Carlos Silva e da sua equipa. A apresentação desta jovem revista foi dinâmica, onde os editores procuraram explicar a lacuna de algo do género em Portugal. Trata-se de uma revista que valoriza histórias assombrosas com origens na História e locais do nosso país. É, portanto, uma revista que claramente homenageia a marca nacional acabando por ter, indirectamente, também uma componente didáctica. Essencialmente procuram-se lobisomens, bruxas, espíritos e extraterrestres com sangue luso. Os editores demonstraram prazer pelo projecto e prometeram dar seguimento à revista, afirmando que só o poderiam fazer com a contribuição de quem estava do outro lado, a quem apelaram.
Por fim, em palco apresentou-se a equipa Clockwork Portugal, criadores do Almanaque SteamPunk. Na mesa, a designer Joana Maltez e o seu grupo lançaram algumas linhas acerca do que é o culto SteamPunk, algo que ainda está a emergir em Portugal, assim como o evento EuroSteam Con que ocorreu no final de Setembro no Porto. Resumindo, o steampunk é um movimento que se baseia nas vestes do período vitoriano e nas máquinas e engrenagens da revolução industrial do início do século XX. O steampunk transcende o aspecto visual, uma vez que, segundo a Clockwork Portugal, “é um fenómeno que valoriza a ligação entre a humanidade, a ciência e a evolução das sociedades”.
Foi precisamente esse interesse pelo tema que fez com que um grupo de pessoas se juntasse e a criasse a comunidade Clockwork em Portugal, algo que já existia no Brasil. O EuroSteam Con foi um evento que surgiu desse mesmo suor e, passado algum tempo, serviu não só para divulgar o culto mas também para servir como portal para fomentar a ficção literária. Das mãos da Clockwork surgiu o Almanaque Steampunk, na sua primeira edição, que em termos de aspecto lembra-nos as revistas de divulgação geral de outros tempos ou mesmo as clássicas Borda d’Água. Tal como as outras revistas, o Almanaque está aberto aos textos de qualquer um e procura encher as suas páginas não só com contos mas também com crónicas, artigos, entrevistas e jogos.
Decorridas as sessões de lançamento, as pessoas apressaram-se a sair e colocar a conversa em dia para além de adquirir os primeiros exemplares das obras. Jovens escritores, editores ou mesmo fãs juntaram-se para trocar ideias e contarem as suas inspirações e prazeres na escrita. Na verdade, os três grupos das revistas já se conheciam e, apesar de terem projectos diferentes, não perdem uma oportunidade para debater os temas de que tanto gostam. Mais do que um evento literário por si só, o Fórum é um evento onde se desenvolvem amizades e inspirações para as veias criativas de todos.
Antes de sair, ainda pude assistir a uma palestra sobre mitos e fantasmas na ficção nacional e à exibição de “Conto do Vento”, a curta-metragem premiada de Cláudio Jordão e Nélson Martins, que brilhou pela ligação entre o elemento visual e a narrativa. Falou-se também nas dificuldades em implementar ideias de ficção a nível audiovisual e lançou-se um voto para as pessoas não deixarem de sonhar, de criar algo para além da realidade do quotidiano. No fundo é essa a ideia do Fórum Fantástico: de levar mais pessoas a ler e a criar mundos para além do mundo. Para o ano há mais.


O grupo da revista Trëma
O grupo da revista Lusitânia
O grupo ClockWork Portugal e do Almanaque SteamPunk
Painel “Mitos e Fantasias na Ficção Nacional”